Ansiedade e Fé

Ao longo desse tempo pandêmico, no qual estamos vivendo, foi e é nítido a crescente presença de doenças psicológicas, como a ansiedade, a depressão e a síndrome do pânico. Mas Deus não deseja que permaneçamos nesse estado, e nem nós mesmo desejamos, assim sendo, o Padre Fellinto expõe as razoes da tais doenças e os meios para se encontrar a cura delas.

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15.04.2021 - 08:37:26 | 9 minutos de leitura

Ansiedade e Fé

            Estamos vivendo tempos em que a pandemia do covid-19 impactou gravemente sobre a vida da humanidade afetando não só a saúde física das pessoas, mas também psicológica. Não são poucos os casos de ansiedade, transtorno do pânico e até depressão que se desenvolveram ou se intensificaram por causa tanto do medo gerado na mídia quanto também de adoecer e até morrer. Eu mesmo tenho atendido várias pessoas em particular que vieram em busca de atendimento espiritual, nas quais eu verificava haver um grau elevado de fragilidade emocional por esses fatores específicos. Mas a grande questão que se impõe é se é possível retornar à paz interior vivida antes da pandemia. Como então alcançar essa superação?

           Em primeiro lugar, é preciso entender o que é cada uma dessas realidades de sofrimento para que, compreendendo o que elas são e como funcionam, possamos visualizar possíveis caminhos de cura interior. Certamente você já deve ter visto alguém com crises de ansiedade ou transtorno do pânico, ou até deve ter passado por estas tribulações e viu que nos primeiros dias, vem à tona um conjunto de sintomas que acabam levando a pessoa a buscar imediatamente um posto de atendimento médico. Em geral, depois de ir a um consultório, o paciente passa a fazer uso de medicamentos receitados para acalmá-lo. É muito comum pensar que, mesmo com tantos benefícios, o tratamento medicamentoso para esse tipo de problema irá curar tais doenças como um analgésico resolve a dor de cabeça. Mas a verdade não é bem assim. Os medicamentos servem para acalmar a pessoa, pois o repouso é um grande auxiliador na hora de equilibrar a atividade da mente, uma vez que os desgastes emocionais são os grandes vilões da ansiedade e síndrome do pânico, como também da depressão. 

           Porém o grande protagonista da cura da ansiedade e doenças afins é, abaixo de Deus Nosso Senhor, o próprio paciente. Sim, é a própria pessoa que deverá se ajudar, auxiliada por um terapeuta, a sair do labirinto subjetivo em que entrou. Isso parece estranho, pois como pode uma pessoa que está em crise, fugindo de supostas ameaças, ser ela própria a heroína que a salvará do monstro ameaçador do medo? Mas o fato é que o labirinto do medo é uma fase da vida interior em que a pessoa entra apoiada em crenças geradas por modos equivocados de compreender a vida, elaborados em experiências particulares de sofrimentos. 

           Ansiedade, enquanto uma reação natural a um estímulo, é um sentimento que faz parte da nossa vida. Todos nós sentimos ansiedade. Mas existe um limite que, uma vez transposto, já configura a ansiedade como doença psíquica. Imagine uma pessoa que entende que todos devemos nos respeitar e querer bem, e sua estabilidade se apoia nessa maneira de ver a vida. Mas em determinado momento, a convivência com os outros passa a se caracterizar por desentendimentos e agressões. Interiormente isso gera um sentimento de frustração e dor e provoca um conceito negativo, uma reinterpretação da realidade associada a sentimentos ruins da experiência vivida. 

           E como ninguém gosta de sofrimento, a pessoa passa a temer que essas experiências ou outras semelhantes se repitam, gerando expectativas e temores. Isso, somado a outras inúmeras experiências de decepção e padecimentos, vai se prolongando de maneira que chega uma hora em que a mente não suporta mais o peso das pressões da vida objetiva e dispara adrenalina gerando o medo de algo ruim acontecer e a pessoa sofrer muito novamente. Essa reação da mente funciona como um mecanismo de defesa, estimulando a pessoa à fuga uma vez que ela está se sentindo continuamente ameaçada. Sentir medo, coração acelerado, sensação de sufocamento e calafrios são sensações típicas de crises de ansiedade. Mas é possível contornar esse quadro e retomar a estabilidade interior.

           Porém, não cuidar do que sente e não aprender a lidar com maior tolerância com situações de ameaça pode prolongar as crises. Em geral, muitas pessoas que sofrem de ansiedade creem que os medicamentos indicados para as crises serão a cura de seus males psíquicos. Como já disse, eles ajudam, mas não curam exatamente. Mas é pela falta dessa consciência que várias pessoas caem na dependência de remédios para acalmarem seus momentos de intensa ansiedade. Como um analgésico faz passar a dor de cabeça, mas não resolve o problema que causava a dor, assim o paciente precisa da psicoterapia para enfrentar seus medos e aí sanar sua ansiedade. Porém, por não haver essa atitude pontual, pelo tempo prolongado em que as crises vão se estendendo, o paciente acaba caindo num nível mais profundo da fuga do medo que é a síndrome do pânico. 

           Pânico é uma reação intensa de medo, que gera na pessoa uma sensação iminente de morte, provocando sintomas fortes como choro, tremedeira, pés e mãos gelados, sensação de falta de ar, sensação de engasgo, tonturas, uma espécie de desespero que desestabiliza seriamente a vida da pessoa no dia-a-dia. Tudo isso acaba sendo acompanhado também por um medo de que essas reações se repitam, além de uma certa vergonha de haver uma crise dessas em público, o que, na cabeça do paciente, chamaria a atenção das outras pessoas negativamente. Assim, para não sofrer esse tipo de situação, a pessoa começa a se isolar, gerando um medo do medo. É exatamente este ciclo vicioso que passa a caracterizar essas reações como síndrome ou transtorno do pânico.      
   
           No meu livro (digital) – “A Arte de se libertar da Ansiedade” – eu descrevo ao leitor as características dessas patologias psíquicas frisando enfaticamente que a superação de tudo isso dependerá determinantemente da ousadia do paciente de frustrar seus medos! Fugir deles é uma atitude que só os alimentará. Mas à proporção que se investe no enfrentamento, eles vão perdendo força até se tornarem insignificantes à pessoa. O que não se deve permitir acontecer é viver fugindo dos conflitos e das ameaças que eles causam. Uma pessoa que sofre de transtorno do pânico e não se cuida pode desenvolver depressão.
         
          Esse é um nível mais profundo de sofrimento psíquico. A depressão acontece quando as situações de sofrimento emocional frustram grandemente as perspectivas positivas de uma pessoa, gerando uma convicção de que aqueles sofrimentos do passado estão acontecendo no presente e continuarão a acontecer por todo o futuro. A pessoa entra numa verdadeira caverna de decepção, desmotivação e tristeza. Não se trata de simplesmente pensar que a vida é assim; na verdade, o paciente sente que a vida é assim. Daí as crises de choro, fuga da realidade (alucinações), e até no pior dos casos, tendência ao suicídio. 

           Então, como resolver esse problema? Como a nossa fé pode ajudar às pessoas com esses tipos de sofrimentos? Bom, em primeiro lugar, como um guia que conduz uma pessoa perdida para fora de um labirinto proporcionando-lhe liberdade, assim o profissional da psicologia, deve ser buscado para a realização da psicoterapia. É preciso que o paciente se desprenda da maneira errada de ver a realidade gerada nos sofrimentos. Porém, uma questão se impõe nesta busca de solução: É possível a uma pessoa com depressão voltar a ser feliz e querer viver? Sim, claro que é possível. Mas é preciso buscar a solução certa!

           Todos nós queremos ser felizes, mas essa felicidade não pode ser pragmática, ou seja, não pode ser uma fase de mero bem-estar que pode passar quando o objeto da minha felicidade se tornar comum e já não interessar mais. Na verdade, a felicidade como realização total do ser humano não pode ser fundamentada no próprio homem. Ele por si próprio não se basta, mas precisa do outro que lhe faz feliz. Felicidade aqui não é um mero sentimento, mas o estado de espírito de completude, de satisfação de estar sendo exatamente aquilo que precisa ser para viver satisfeito; uma disposição da vida interior que realiza a pessoa dando sentido à sua vida. Deus é este outro que lhe faz feliz! Sim, Deus existe e é Ele, como criador, que é a verdadeira base sobre a qual repousa a segura felicidade de um ser humano. 

        Para alguém que está com ansiedade, síndrome do pânico ou depressão, para além das técnicas terapêuticas, a fé é uma graça sobrenatural de grande importância na vida de uma pessoa assim. Claro que as orações, as leituras sagradas, programas religiosos na tv, presença de pessoas de oração católica fazem parte do quotidiano objetivo de uma pessoa que, tendo fé em Deus, também enfrenta aquelas tribulações. Porém, o que lhe toca na alma e na mente, trazendo segurança e paz é a convicção de que aquele Deus em quem acredita lhe dará força e coragem para enfrentar os males de que padece e alcançar a cura. A fé aqui é uma correspondência de aceitação das graças que Deus realmente concede a quem lhe procura com a certeza de que d’Ele receberá o que precisa para viver bem dali em diante. 

           Na relação entre ansiedade e fé, fica evidente a realidade de que uma pessoa talvez não invista tanto na própria cura se na sua visão, o ser humano for a segurança dessa possível cura. Afinal o homem é falho e suas garantias podem ser falhas também. Mas quando a confiança do paciente se apoia em Deus que é perfeito, generoso e infalível, o paciente convicto dessas capacidades divinas sabe que investirá numa realidade que não decepciona e por essa razão, com a força da oração e a confiança em Deus de que ficará curado, dedica-se a enfrentar seus traumas até subjuga-los e vencê-los. A espiritualidade neste caso é indispensável no processo de cura interior. Por essa razão proclama: “Com fé em Deus eu vou ficar curado!” E fica mesmo! 

Pe. Fellinto Oliveira Britto
Sacerdote da Diocese de Tianguá
Regional – NE 1 

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