COMO REZAR DIARIAMENTE?

“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6,6).

        No Evangelho escrito por São João, Nosso Senhor Jesus Cristo diz: “Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus!” (Jo 3,5). Assim Ele aponta para a realidade que todo cristão deverá viver. Mas o que significam essas palavras de Jesus? Em primeiro lugar, nós nascemos participando da natureza humana criada por Deus originalmente pura, santa. Mas pela ocorrência do pecado original, a humanidade perdeu a sua beleza e sua santidade. E somente o Sacramento do Batismo pode restituir o estado de graça original no qual fomos criados. Nosso primeiro nascimento para participarmos da vida se dá no plano biológico, físico, terreno. Mas este nascimento, por causa da mancha primitiva, precisa ser redimido, uma vez que o pecado é em si um estado de morte espiritual, ou seja, está viva a carne, mas a alma está morta, separada de Deus.

      Quando uma pessoa é batizada, ela é redimida pela divina graça. O pecado original é destruído de modo que o fiel é purificado e lhe é restituída a comunhão com Deus. Também como fruto do Santo Batismo, o cristão é enxertado em Cristo (Rm 11, 23-24), ou seja, é preenchido pela presença de Cristo e passa a poder realizar a mesma missão que Ele. No santo Batismo, o cristão também se torna membro da Igreja, a Comunidade Cristã. Nascer da água é uma expressão que aponta para o Sacramento do Batismo como porta de entrada na vida nova que é a comunhão com Cristo e a vivência n’Ele pela fé. O primeiro sacramento da vida cristã é, por essa razão, o Santo Batismo. Nascer do Espírito significa entrar em comunhão com Deus e viver sob sua condução. Afinal, não somos apenas meros homens carnais, mas também somos espirituais.

     A graça batismal inaugura em nossa existência a vida no Espírito Santo de Deus. Continua Jesus: “O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito!” (Jo3, 6). 

        Nós temos uma vida espiritual porque fomos regenerados pela graça do Espírito Santo e precisamos nos conservar sempre nesta vida. São Paulo dirá, quando escreve aos Gálatas: “Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei!” (Gl 5, 22-23). Este é o ideal de todo cristão. Mas como proceder para que nossas ações sejam essencialmente atitudes de vida no Espírito de Deus? Além de uma boa catequese que nos ensine o que estas virtudes significam, não podemos entendê-las como meras ações automatizadas sem que se tenha consciência de seus significados e sem que elas sejam vividas espiritualmente.

        Por essa razão, é preciso alimentar a vida espiritual com a oração. Ao lado dos sacramentos da confissão e da Santíssima Eucaristia, e de outras práticas de grande relevo como o jejum, a Leitura Orante da Palavra, as meditações de leituras santas, a oração perseverante é o hábito que manterá a vida espiritual sempre expressiva. Diz o Evangelho de São Lucas: “Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18, 1).  Também diz São Paulo aos Romanos: “Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração”. (Rm 12,12) A oração é uma condição indispensável de manutenção da vida espiritual. Ou nós rezamos e rezamos bem ou não podemos nos manter firmes, de pé na espiritualidade.

       Mas a grande questão que se impõe é: Como rezar do jeito certo? Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina, no Evangelho de São Mateus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6,6). É preciso, antes de tudo, criar o ambiente necessário para a oração, sem distrações ou interrupções. Ainda no Evangelho de São Marcos, Ele dirá: “Por isso eu vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc 11,24). É parte integrante da oração pedir com fé e confiança, pois Deus quer que contemos com sua graça mesmo antes de a recebermos.  E Ele ainda completa, no Evangelho de São João: “E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13).

      Criar condições interiores e exteriores para rezar é indispensável. Porém, sem disciplina, esse projeto pode ter um bom começo, mas pode cair no desânimo e até na estagnação. Por isso, toda pessoa precisa estabelecer um horário de oração para si mesma e lutar para ser fiel a esse horário. A Liturgia das Horas é a oração oficial da Igreja que pode ser rezada tanto por sacerdotes e religiosos como também por leigos. Mas para quem não a utiliza, pela manhã pode-se rezar à Leitura Orante, extraindo daí a mensagem de Deus que iluminará o dia a ser vivido. Sempre antes e depois das refeições é preciso rezar pedindo bênçãos e agradecendo pelo pão nosso de cada dia. À tarde também pode-se rezar às 15:00h o Terço da Divina Misericórdia, associado à leitura do Diário de Santa Faustina. Às 18:00h pode-se rezar também o Santo Terço Mariano e antes de dormir, pode-se rezar o Ofício de Nossa Senhora. 

          Essas indicações são apenas sugestões de oração para o dia-a-dia do cristão. É importante considerar com atenção essas reflexões porque elas tocam diretamente à vida de nossa alma. Marta e Maria são duas irmãs que mostram, no Evangelho de São João, que é importante ter responsabilidade com nossas obrigações diárias, mas sem descuidar da vida espiritual. Pois por espiritualidade, palavra que significa ‘nossa convivência com Deus’, não se pode entender apenas o instante de nosso batismo em si, o momento em que nascemos na graça de Deus, mas também indica que o ‘nascer de novo’ significa se espiritualizar, isto é, tornar-se homens e mulheres de oração. 

Pe. Fellinto Oliveira Britto

Sacerdote da Diocese de Tianguá

Regional NE- 1